Parece que sou todo instinto...

" A LINGUAGEM ADMITE A FORMA DUBITATIVA QUE O MÁRMORE NÃO ADMITE"
"A GRAMÁTICA APARECEU DEPOIS DE ORGANIZADAS AS LÍNGUAS. ACONTECE QUE MEU INCONSCIENTE NÃO SABE DA EXISTÊNCIA DAS GRAMÁTICAS, NEM DE LÍNGUAS ORGANIZADAS. E COMO DOM LIRISMO É CONTRABANDISTA"
Prefácio Interessantíssimo/Mário de Andrade

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domingo, 6 de setembro de 2009

PARNASIANISMO DE OLAVO BILAC

 Olavo Bilac publica, em 1888

 “príncipe dos poetas brasileiros”.

 Foi o autor da letra do Hino à Bandeira, musicada pelo maestro Francisco Braga.

O seu livro Poesias contém três partes distintas:

 Panóplias: poemas onde há:


a) predomínio das descrições ornamentais;


b) referência à cultura greco-latina;

 Via-láctea: trinta e cinco sonetos impregnados de um lirismo amoroso platônico;

 Sarças de fogo: poemas eróticos e satíricos.

 Tarde, seu livro póstumo, contém admiráveis sonetos, diferentes dos de Via-láctea; comparáveis aos de Camões e de Antero de Quental, quer pela beleza formal, quer pelo conteúdo.


Características da obra de Olavo Bilac:

• Sensualidade e platonismo alternam-se em seus poemas líricos;
• Formalismo;
• Utilização de temas greco-romanos, principalmente da mitologia;
• Uso freqüente da natureza;
• Exaltação da pátria;
• Didatismo sobre temas como trabalho, pátria, família, etc.

Um beijo
Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!



Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,

e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto..


Remorso
Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!


Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,


Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


“Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar” Maldição
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!..."