Parece que sou todo instinto...

" A LINGUAGEM ADMITE A FORMA DUBITATIVA QUE O MÁRMORE NÃO ADMITE"
"A GRAMÁTICA APARECEU DEPOIS DE ORGANIZADAS AS LÍNGUAS. ACONTECE QUE MEU INCONSCIENTE NÃO SABE DA EXISTÊNCIA DAS GRAMÁTICAS, NEM DE LÍNGUAS ORGANIZADAS. E COMO DOM LIRISMO É CONTRABANDISTA"
Prefácio Interessantíssimo/Mário de Andrade

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sábado, 19 de setembro de 2009

Prova da UERJ

Tentem fazer a prova da UERJ! depois podemos discuti-la!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A EVOLUÇÃO NAS OBRAS DE MÁRIO DE ANDRADE

1. A poesia de Mário de Andrade mostra nítidos estágios de evolução: seu primeiro livro, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), mostra poemas ainda num estilo mais conservador. A preocupação é usar a poesia enquanto instrumento de paz e denunciar os horrores da primeira guerra mundial.
2. Os livros Paulicéia Desvairada (1922) e Losango Cáqui (1926) já denotam toda a sua tendência modernista: versos livres, linguagem solta e lírica, nacionalismo exaltado, principalmente em sua paixão declarada em cantar a cidade de São Paulo com toda a sua agitação, seu barulho, e elementos como o cimento armado, a garoa e a fumaça. São poemas que mostram a vida quotidiana, a preocupação em descrever simples idéias e emoções, uso da ironia e do poema-piada, a poesia-telegrama (poemas curtos, porém providos sempre de grande significação), a montagem e a colagem de imagens (características próprias da pintura de vanguarda) e divulgação das idéias de vanguarda (Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, etc.). O livro Paulicéia Desvairada, primeira obra poética modernista, já continha em seu início o famoso "Prefácio Interessantíssimo": conjunto de idéias onde são expostas as características do Modernismo.
3. O livro Clã do Jabuti (1927) já denota sua fase mais nacionalista, na busca de uma identidade mais brasileira dentro de sua poesia, com o vasto uso de nosso rico folclore, conciliando as tradições africanas, indígenas e sertanejas. Já sua última fase poética pode ser vista nos livros posteriores, principalmente em Lira Paulistana (1946), onde se tem uma poesia mais madura, pessoal, sem a ironia e a agitação dos primeiros anos do Modernismo. Os poemas nessa fase são marcados por um tom mais solene, sereno e triste.
4. Macunaíma (1928) Na prosa está presente todo o seu nacionalismo e sua forte ligação com o folclore. Há uma colagem de anedotas e lendas brasileiras, onde as culturas do norte e do sul convivem juntas. O personagem Macunaíma, anti-herói (ou "herói sem nenhum caráter", como sugere o livro) serve de ponte para a fusão de todas as nossas vertentes culturais, nossas tradições e expressões de linguagem. Em Macunaíma Mário de Andrade faz uma brincadeira descreve o surgimento das três raças que deram origem à população brasileira.
“Macunaíma e seus dois irmãos Jiguê e Maanape, pretos retintos, estavam no meio da mata quando Macuína enxergou numa lapa bem no meio do rio cheia d’água. E cova era que nem a marca dum pé de gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era a marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus para indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco e de olhos azulzinhos, água lavara o pretume dele, (...) Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé . Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse fito maluco atirando na água para todos os lados só conseguiu ficar com a cor bronze novo. (...) Maanape então é que foi se lavar, mas Jiquê esborrifava toda a água encantada para fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos . Por isso ficou negro (...). Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na águas santa".
5. Em Amar, Verbo Intransitivo, há a denúncia da hipocrisia da elite burguesa de São Paulo, bem como uma profunda análise psicológica dos personagens que retoma as teorias de Freud e desmistifica a relação familiar. O mesmo é constatado em muitos de seus contos, porém com um cenário diferente: bairros paulistas típicos ou suburbanos.
6. Mário de Andrade deixou ainda uma vasta lista de obras, principalmente a respeito de Música e Folclore, bem como correspondências a amigos e intelectuais, reunidas posteriormente sob a forma de livros

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MARIO DE ANDRADE/ MODERNISMO BRASILEIRO


Ode ao Burguês
Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!


Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Poesias

Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917); Paulicéia Desvairada (1922); Losango Cáqui (1926); Clã do Jabuti (1927); Remate de Males (1930); Poesias (1941); Lira Paulistana (1946); O Carro da Miséria (1946); Poesias Completas (1955).


CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
• Poesia até o romance e o conto, além de suas importantes teses sobre a literatura em nosso país.

• Sua grande virtude está em quebrar com o Parnasianismo da elite, criando uma nova linguagem literária, mais brasileira .

• Trabalhando muito bem com a sonoridade das palavras, Mário resgata em nossas letras um vocabulário que une desde as palavras providas de línguas indígenas até os neologismos e estrangeirismos dos bairros italianos de São Paulo.

domingo, 6 de setembro de 2009

PARNASIANISMO DE OLAVO BILAC

 Olavo Bilac publica, em 1888

 “príncipe dos poetas brasileiros”.

 Foi o autor da letra do Hino à Bandeira, musicada pelo maestro Francisco Braga.

O seu livro Poesias contém três partes distintas:

 Panóplias: poemas onde há:


a) predomínio das descrições ornamentais;


b) referência à cultura greco-latina;

 Via-láctea: trinta e cinco sonetos impregnados de um lirismo amoroso platônico;

 Sarças de fogo: poemas eróticos e satíricos.

 Tarde, seu livro póstumo, contém admiráveis sonetos, diferentes dos de Via-láctea; comparáveis aos de Camões e de Antero de Quental, quer pela beleza formal, quer pelo conteúdo.


Características da obra de Olavo Bilac:

• Sensualidade e platonismo alternam-se em seus poemas líricos;
• Formalismo;
• Utilização de temas greco-romanos, principalmente da mitologia;
• Uso freqüente da natureza;
• Exaltação da pátria;
• Didatismo sobre temas como trabalho, pátria, família, etc.

Um beijo
Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!



Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,

e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto..


Remorso
Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!


Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,


Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


“Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar” Maldição
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!..."